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DIÁRIO DE BORDO DO PROJETO BIRA
25 de julho de 2001

O primeiro ponto de visita do Projeto Bira foi concluído esta semana com resultados acima da expectativa. Acabamos de chegar do Arquipélago do Bailique que fica a 12 horas de viagem de barco de Macapá em direção ao oceano. Visitamos duas comunidades deste Arquipélago onde ficamos hospedados na casa de moradores da vila, e fomos tratados à base de muito camarão, capivara e muitas, muitas brincadeiras novas, cantigas e confecções de brinquedos como aviãozinhos e barcos feitos de miriti, espingardinhas de taboca, currupio de buçú, perna de pau de madeira de madeira de facão, entre outras maravilhas.

As crianças por aqui têm um repertório lúdico invejável. Foi difícil de descobrir as cantigas ou brincadeiras que elas ainda não conhecessem para que eu pudesse estabelecer uma troca com elas. A maior troca aconteceu porém com as histórias, onde esgotei todo o meu repertório, visitando suas casas cobertas de palha de miriti, juntando adultos, velhos e crianças atentas em cada palavra destas histórias.

Conhecemos uma menina chamada Keliane que tem 13 anos, e é uma grande conhecedora da cultura infantil desta região. Observa-la pulando elástico ou brincando de bole-bole (uma modalidade diferente da brincadeira das pedrinhas ou cinco marias) é um espetáculo raro de cultura, que foi minuciosamente gravado pela câmera do David, que é mais conhecido como "homem branco" entre as crianças.

Entre as brincadeiras favoritas do grupo de "giitos" ("pequeninos" na linguagem nortista), estão no topo da lista as brincadeiras de mão como o Dó, ré, mi, fá, a Dona Cabante Utelo, ou a Aranha Caranguejeira, as brincadeiras de roda como a Dança da Carochinha, Fui à Espanha, ou Tanta Laranja, ou ainda atividades como a Bandeirinha, a Macaca (variação da Amarelinha) e as figuras de barbante. Sem citar ainda a rabiola como aqui é conhecida a tradicional pipa, e o delicioso banho de rio.

Todos os dias estávamos rodeados de olhinhos ávidos para nos mostrar suas habilidades, que iam desde buscar a matéria prima na floresta para suas confecções, remar suas "montarias" (canoa a remo), ou jogar suas tarrafas para nos trazer deliciosos camarões.

Partimos do Bailique com acenos tristonhos de ambas as partes, mas com a sensação de que à partir de agora estaremos mantendo grandes amizades de pequeninas criaturas neste território onde o vínculo humano é equivalente a grandeza desta floresta.

RENATA MEIRELLES