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DIÁRIO DE BORDO DO PROJETO BIRA
agosto de 2001

Estamos agora deixando o Estado do Amapá, que nos recebeu de forma calorosa e nos ensinou MUITO mais que suas incríveis brincadeiras.

O nosso grande contato aqui foi o Ney Pennafort, um cinquentão aventureiro que nasceu e se criou na cidade do Oiapoque. Ele nos transbordou de histórias da sua infância, onde caçava e pescava com os índios daquela região, brincava de futebol de peteca, fazia barquinhos de miriti e foguetinhos de folha de coqueiro. Contou-nos também que naquela época era muito comum a coqueluche entre as crianças, e a cura desta doença ficava a cargo dos aviões da FAB. Não que eles trouxessem remédios não, mas embarcavam as crianças doentes e faziam grandes manobras em queda livre, acreditando assim que os pulmões "se abririam" com maior facilidade. Era chamado o vôo da coqueluche. O Ney foi um cliente assíduo destes vôos.

Foi ele também quem nos levou a conhecer as aldeias indígenas dos Galibis e Karipunas, vizinhas do Oiapoque. Com um contato antigo com os brancos estas duas etnias incluíram em seus costumes hábitos da nossa civilização, mas ainda perpetuam brincadeiras típicas como um incrível piãozinho de semente de tucumã, que ao rodar faz um zunido maravilhoso, e um brinquedo feito da tala do guarumã que imita o pulo de um pássaro de nome Bacurau. Esse pássaro é uma mistura perfeita de sapo com coruja, pois só acorda durante a noite e pula bem na nossa frente como um "pipa" (espécie de sapo muito apreciada no prato dos Galibis).

Aliás, já tivemos o prazer de nos deliciar com algumas das espécies de caça desta região como a capivara, a cotia, o jacaré, e toda sorte de peixes, sempre acompanhados é claro da tradicional farinha de mandioca.

Para quem pretende chegar na cidade do Oiapoque prepare-se bem pois o trajeto é bastante árduo. Pegamos o ônibus em Macapá, que infelizmente tem um bagageiro que não cabe nem um terço da demanda de bagagens, e só desembarcamos em Oiapoque quase 17 horas depois. À distância nem é tanta (600km), mas as condições da estrada, que só tem 120km de asfalto, é algo para se pensar que está fazendo parte destes rallys tipo Paris-Dacar. Estamos agora de partida para Santarém acreditando que encontraremos por lá mais histórias e brincadeiras recheadas de cheirinho de floresta, molhadas pelo rio, e tudo isso debaixo de um Sol constantemente escaldante.

Partimos do Bailique com acenos tristonhos de ambas as partes, mas com a sensação de que à partir de agora estaremos mantendo grandes amizades de pequeninas criaturas neste território onde o vínculo humano é equivalente a grandeza desta floresta.

Até lá.


RENATA MEIRELLES